sábado, 28 de março de 2009

Ensino de Gramática nas Escolas
Por: Michele Tolentino

Autoras: Michele de Jesus P. Tolentino

Vanessa Assis Lima.

Orientadora: Marli Vieira Lins.

Faculdade Evangélica de Brasília.



Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa, afinal a gramática deve ou não ser ensinada? Diante de uma nova metodologia, como seria a reação de professores e alunos?

Em vista disso, surge também outro questionamento, a cerca do ensino de língua portuguesa nas escolas, pois ao educador compete o ensino da gramática normativa para o cumprimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais servem de referência para o trabalho de todas as disciplinas nos três níveis para a formação escolar dos discentes. Observa-se uma grande dificuldade em relação à aprendizagem, por parte desses, de acordo com a norma culta imposta devido à cultura dos estudantes que, muitas vezes, é incompatível levando os mesmos a concluírem a vida escolar sem saberem ler e escrever adequadamente.

Cônscio dessa realidade, o professor de língua portuguesa, deverá dedicar-se em adotar novos recursos didáticos, a fim de garantir um ensino eficaz que leve o aluno a ter verdadeiramente uma aprendizagem significativa.

Não há dúvida de que deve ensinar a gramática normativa nas aulas de língua portuguesa, embora sabe-se perfeitamente que ela em si não ensina ninguém a falar, ler e escrever com precisão (Antunes, 2007 p. 53). O dever da escola é ensiná-la oferecendo condições ao aluno de adquirir competência para usá-la de acordo com a situação vivenciada. Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo estudo da língua, por não terem condições de entender o conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim frustrações, reprovações e recriminações que iniciam pela própria escola e o preconceito lingüístico.

É importante enfatizar que a assimilação crítica dos estudos lingüísticos e a necessidade de se estabelecer um maior contato do professor com a língua materna e a proposta da lingüística; valorizar a língua falada pelo aluno. Considerando que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, absoluta e acabada antes, porém seus conceitos devem ser relativizados, para que alcance o educando do século XXI.

(BAGNO, 2000 p. 87) opina que: "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa".

Através desse conceito, Bagno afirma que a gramática em si não justifica seu papel de única fonte para o ensino da língua nas escolas, tanto do ponto de vista teórico quanto do prático, bem como o código normativo da linguagem, tomado no geral. Os gramáticos levam ao estágio da angústia os professores e os alunos, para o estudo gramatical em virtude das divergências entre os mesmos. Então o professor deve deixar de lado o comodismo e a repetição da doutrina gramatical e ser mais dinâmico ministrando o conteúdo de forma reflexiva em atividades contextualizadas, interdisciplinares, individuais ou coletivas de forma que o aluno passa a conhecer as variedades da língua através de pesquisas, as quais envolvam a leitura e produção textual, construindo seu próprio conhecimento lingüístico.

O ensino de gramática nas escolas, acontece de forma arcaica, devido à aplicação de métodos totalmente teóricos, sem nenhuma significação na vida dos alunos que, por sua vez, não conseguem estabelecer relação entre a teoria gramatical e a prática de texto.

A concepção de que língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de, ingenuamente, se acreditar que a língua constituída de um único componente: a gramática. Por essa ótica, saber uma língua equivale a saber sua gramática; ou, por outro lado, saber a gramática de uma língua equivale a dominar totalmente essa língua. Na mesma linha de raciocínio, consolida-se a crença de que o estudo de uma língua é o estudo de sua gramática (p.39).

É importante ressaltar que o ensino de gramática, não deve ocorrer apenas para proteger ou conservar a composição da língua, mas para auxiliar o usuário e falante no conhecimento de sua própria língua materna, possibilitando-lhe as características essenciais que pertencem à sua cultura. Deve ser também, um ensino harmonioso na relação entre o ensino da gramática normativa e a contextualizada, sem descartar as nomenclaturas, terminologias e regras, as quais são fundamentais para o desenvolvimento social e cultural dos alunos.

Mediante a algumas situações ocorridas em sala de aula, relacionadas à aprendizagem, faz-se necessário algumas mudanças nos procedimentos adotados em relação ao ensino de língua portuguesa, pois sabe-se que os alunos pertencem a diferentes culturas e devem ser atendidos de acordo com suas necessidades, baseando-se em suas possibilidades de leitura e escrita levando em consideração o potencial gramatical que cada um tem ampliando, ou seja, enriquecendo o poder lingüístico através do ensino da gramática que tem por objetivo preparar o aluno para uma produção textual obedecendo à norma padrão.

Percebe-se que o ensino de língua portuguesa perpassa por muitas dificuldades, não apenas com a forma de ensinar a gramática, como também a maneira que o professor atua em sua prática, ou seja, além de fornecer aos alunos uma orientação válida para a prática de produção de textos respaldadas pelas regras gramaticais, então deve-se encontrar métodos dinâmicos e eficientes ao transmitir o conteúdo. Não há uma receita mágica nem respostas milagrosas, o que deve ser feito são novas práticas de ensino que vão propiciar ao corpo discente uma aprendizagem significativa.

Há várias maneiras para que ocorra mudanças no ensino tradicional, uma delas é o professor tornar-se o mediador do conhecimento ao aluno, fragmentando a distância entre o mesmo e o ensino de gramática, tornando-a prazerosa e não somente obrigatória. Pois, será realmente um professor, independentemente do conhecimento que possua se puder transmitir tais informações de forma interativa e criativa, estabelecendo a relação professor-aluno, acreditando sempre que o aluno é capaz de aprender e compreender a gramática. O aluno somente interioriza o conhecimento da estrutura gramatical, se ela for contextualizada em situações ou contextos comunicativos. O professor poderá utilizar recursos metodológicos, bem como, tecnológicos como cartazes, textos de embalagens, revistas, jornais, oficinas, carta comercial e pessoal, bilhete, romance, horóscopo, receita culinária, cardápio, outdoor, lista de compras, resenha, inquérito, edital de concurso, piada, carta eletrônica, bate-papo online, data show, dentre outros. É importante despertar nos alunos a consciência da funcionalidade da leitura e escrita, e isso só será possível quando os professores levarem em conta a bagagem que o aluno traz consigo, a respeito de sua língua materna. Dessa forma pode acontecer a união da norma culta e da norma coloquial sem criar traumas ou defasagens na aprendizagem dos alunos, basta que os educadores busquem a formação continuada, não apenas teórica, mas também na prática e no contexto da realidade em que ele está inserido, respeitando assim as diferenças.

Segundo VYGOTSKY (apud: www.ufsm.br/linguagem_e_cidadania/02_03/Liane.htm. Acesso em: 22/10/2008) "O estudo da gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança". A criança, embora domine a gramática de sua língua muito antes de entrar na escola, pois organiza sua fala de acordo com a necessidade, esse domínio é inconsciente, ou seja, mesmo usando o tempo verbal correto ao se expressar, não saberá rejeitar uma palavra quando isso lhe for solicitado. Em vista disso, o ensino de gramática torna-se válido não só porque permite à criança de estar consciente do que está fazendo, mas pode usar essas habilidades de forma precisa, além de permitir o uso da fala com maior eficácia.

O ensino de gramática deve-se iniciar nos primeiros anos de escolaridade, pois a criança desenvolve seu pensamento a partir das descobertas que vai surgindo pelos conteúdos aplicados sem sala de aula, os quais contribuem para o desenvolvimento da fala e escrita. A partir dessas descobertas conclui-se que todas as matérias básicas são estimuladas pelo psicológico ao longo de um processo ensino-aprendizagem. Isso ocorre de forma lenta, interativa, coletiva e contextualizada.

Ao ensinar a gramática, o professor deve levar em consideração algumas questões como: o estudo coletivo, a cooperação e a competição, os quais podem ajudar na aprendizagem no sentido de que as crianças com facilidade colaboram com as demais, também pode haver uma competição entre grupos, de forma em que um seja avaliado por outros, recebendo sugestões e reflexões para o próprio amadurecimento.

O ensino de gramática é importante tanto na escrita quanto na fala, até porque nós estamos inseridos em uma sociedade contemporânea, na qual nossa aprendizagem é medida para ingressarmos no mercado de trabalho por meio de concursos públicos que exigem dos concorrentes uma gramática contextualizada, que depende das regras da gramática normativa. As provas são elaboradas baseadas nos currículos escolares com propostas pedagógicas, onde a gramática normativa está inserida. Neste caso o aluno deve conhecer a estrutura, os usos e o funcionamento de uma língua nos seus diversos níveis: fonológico, morfológico, lexical e semântico. O professor de língua materna desde a alfabetização até o último ano escolar deve estar atento a estas informações realizando sua tarefa de educador com precisão e competência.

Diante do exposto, segue sugestão a ser trabalhada no ensino de língua portuguesa dentro da sala de aula, que poderá ser adaptada. O professor poderá trabalhar diversas áreas do conteúdo de língua portuguesa, como por exemplo, gramática, produção textual, e leitura de forma contextualizada e dinâmica. A função de jogos e aulas dinâmicas é exatamente para que o professor construa ferramentas, para que o aluno, através dessas aulas, construa sua visão de mundo.

O jogo chamado: "Produção textual a partir da história: A Bela e a Fera", lembrando que o professor poderá adaptá-lo e usar outras histórias, por exemplo: A pequena sereia; Rapunzel; Chapeuzinho vermelho; Pinóquio, dentre outras. A história deverá conter figuras, ilustrando os momentos, e o texto original, os quais estão anexos.

As regras do jogo deverão ser explicadas de modo que a turma compreenda, que são: O professor fará um breve comentário sobre a história, colhendo os conhecimentos prévios dos alunos; Então divide-se a turma em grupos, sendo que a quantidade de grupos fica a critério do professor, podendo ser desde quatro grupos, caso a turma seje pequena, ou em maior quantidade de grupos, caso a turma contenha um número grande de alunos, de modo que todos participem; Em seguida, distribue-se a história que estará recortada em figuras para que os alunos coloquem-as em sequência; Durante a montagem, o professor acompanhará, se a ordem da história estiver correta, tudo bem, se não, o professor orientará os grupos até que eles consigam organizá-las de forma correta, não falando que está incorreto e sim dando pistas, instigando o aluno a refletir sobre o que foi dito durante a exposição inicial do professor; Montada a historinha, o professor pedirá que os alunos leiam o texto original da historinha e, em seguida, que cada um crie sua própria história, podendo mudá-la, e, finalmente, na próxima aula o professor colocará o vídeo da história.

Os conhecimentos na área da lingüística ocorrem durante todo o processo escolar, pois o ensino gramatical se repete em todos os anos escolares, numa prática diária em sala de aula, numa interação formal e contextualizada, na oralidade e na escrita.

Nesse contexto, pode-se afirmar que o ensino da gramática é importante, pois a mesma oferece condições para o aluno ampliar seu discurso lingüístico em relação ao funcionamento da língua padrão, através do conhecimento de regras gramaticais trabalhadas em atividades aplicadas pelos professores que demonstram as variedades lingüísticas levando o aluno a entender a estrutura, o uso e o funcionamento da língua materna.

Para a produção textual é importante primeiramente, que o aluno tenha ampla visão de mundo, caso essa não seja a realidade do mesmo, é imprescindível que o professor aborde o assunto determinado em sala de aula, através de debates e pesquisas, para que o aluno construa seu próprio conhecimento de forma crítica e reflexiva. A partir de então, aplica-se o conhecimento das normas gramaticais, que ajudará ao aluno na estruturação de seu texto, pois para escrever bem é necessário o uso adequado das palavras que dão uma seqüência lógica e coesa ao texto.

O que falta no ensino da gramática, de acordo com a didática é a aplicabilidade, pois quando aprende-se algo que serve de uso em nossas vidas, certamente ficará guardado dentro de nós, de maneira tal que não esqueceremos. Acredita-se que há possibilidade da gramática condizer com a nossa realidade, utilizando a própria fala dos alunos para por isso em prática, por exemplo, quando um aluno expressa algo comum na fala de sua comunidade como os regionalismos e os neologismos, pode-se aproveitar a oportunidade e intervir nessa fala, mostrando que, muitas vezes, há várias formas de dizer a mesma palavra, que a Lingüística explica todas essas variações e posteriormente demonstrar como a gramática normativa usa essa palavra. Outro ponto que falta no ensino de gramática é acabar com certas "decorebas", muitas vezes, aprende na escola que os verbos: ser, estar, continuar, parecer, permanecer, dentro outros, sempre serão verbos de ligação, e ao chegar à faculdade leva-se um choque ao se deparar que depende do contexto do texto ou da frase para esse verbo ser realmente de ligação.

Sabe-se que ser professor é uma profissão importantíssima e mesmo com tantos problemas encarados por estes profissionais, é possível ainda sonhar em mudar o ensino da nossa língua de uma forma a que todos venham aprender e a valorizá-la, não é um caminho fácil, não obstante também não é impossível, mas falta aplicar à prática o que nossa professora comenta em muitas de nossas aulas de Gramática, Descrição e Uso: está na hora de arregaçarmos as mangas em prol de um ensino de qualidade.

Referências

ANTUNES, Maria Irandé Costa Moraes. Muito além da gramática: por um ensino de gramática sem pedra no caminho. São Paulo, Ed. Parábola, 2007.

http:// www.ufsm.br/linguagem_e_cidadania/02_03/Liane.htm. Acesso em: 22/10/2008)

BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. São Paulo, Ed. Loyola, 2000.

A partir desse conceito, não existe relação entre a teoria gramatical e a prática de texto, porque para muitos estudar a língua se generaliza em estudar a gramática normativa. Por isso, existem tantas dificuldades nos alunos em elaborar um texto, pois a gramática é estudada de forma separada, isto é, não entra em consenso com as outras interações da língua, como a própria prática de produção textual, leitura, dentre outros. Para que haja um ensino de qualidade, faz-se necessário que o estudo da gramática vá de encontro à vida do aluno, a isto conceitua-se aplicabilidade.

Segundo Antunes (2007):: gramática, escola, ensino, metodologia, reflexão.: O principal objetivo desse artigo é estabelecer uma reflexão a cerca do ensino de gramática nas escolas, diante de uma nova metodologia adotada pelo professor, a fim de proporcionar aos discentes um ensino eficaz. Visto que o ensino da gramática depende da relação professo-aluno, da formação teórica e prática de sala de aula.
A GRAMÁTICA E O ENSINO DO PORTUGUÊS




J. M. dos Santos
Professor de Língua Portuguesa CEULJI-RO
jomar@ulbrajp.com.br

O uso da gramática no ensino do Português nas escolas, em geral, vem gerando acirradas polêmicas ao longo dos anos. Esse fato é atribuído ao silêncio dos gramáticos diante das críticas fundamentadas dos lingüistas, relativas às falhas existentes no ensino do português, visto que eles procuram valorizar o ensino gramatical em detrimento do texto, numa concepção de que o conhecimento de conceitos e regras teóricas levam ao domínio da linguagem, mas o que observamos é exatamente o inverso. Pretendemos, assim,à luz da razão, mostrar as incoerências gramaticais quanto ao ensino posto em prática, em nossas escolas, em virtude de uma visão distorcida quanto ao que vem a ser norma padrão.

O nosso sistema educacional tem sido alvo de críticas há algumas décadas, pois o Ensino Fundamental, alicerce falido em que se apóia o Ensino Médio, está mergulhado na plenitude da ignorância das autoridades educacionais e com ele o próprio Ensino Médio. Diante desse quadro caótico, a esperança de nossos educadores, sequiosos por mudanças que efetivamente justifiquem aquilo de que tanto se tem falado nos meios educacionais – qualidade total - esvai-se, dando espaço à desilusão que os prostra por duas razões - promessas vãs e a continuidade do descaso para com a educação. Isso tem contribuído para o fracasso do próprio sistema e desespero dos que objetivam formar alunos críticos, donos de seu próprio discurso e futuros componentes de uma sociedade mais justa e humana. Assim, diante desse quadro crítico, é difícil ensinar português para falantes do português, por se tornar tarefa angustiante para qualquer professor em face das inúmeras divergências de gramáticos radicais, que não aceitam as variedades dialetais empregadas pelos alunos na comunicacão, observadas na prática pedagógica, fruto de currículos dissonantes com a realidade lingüística do nosso país, pois se ensina a língua pátria como sendo um corpo único, homogêneo, imutável.

Analisando essas incoerências, vejamos como BECHARA (1982:199) conceitua período: “Chama-se período o conjunto oracional cuja enunciação termina por silêncio ou pausa mais apreciável, indicada normalmente na escrita por ponto.”

Notando a falta de clareza, redime-se no parágrafo seguinte, dizendo ser período simples o constituído por uma só oração. O que se entende por conjunto oracional? é a reunião das partes que constituem um todo. Confrontando Bechara com ANDRÉ (1997:274), nota-se uma semelhança entre ambos parecendo-nos este mais conflitante em relação àquele, ao dizer que “Período é o enunciado que se constitui de duas ou mais orações.”

Como pode o aluno assimilar esses conceitos falaciosos e que procedimento tomará ao enfrentar concursos públicos, em especial o Vestibular? Se nós, professores, não fizermos uma avaliação prévia do livro didático, antes de adotá-lo, estaremos nos acomodando funcionalmente e permitindo ao aluno acreditar cegamente em tudo quanto o livro contiver. Essas aberrações não param por aqui. Ao perceber esse “festival”, o estudante volta-se para o lado crítico, inquirindo o professor para explicar esses absurdos. Ás vezes, o professor é tão radical quanto o gramático e não aceita a participação do discente, pois também não domina a GN, classificando-o como perturbador ou gracejador. Essa postura do docente compromete o rendimento da aprendizagem, deixando seqüelas no discente a ponto de se incompatibilizar com a matéria e também com o professor. Assim, transmite-se essa visão distorcida sobre o ensino da língua como sendo o “decoreba” de uma infinidade de regras e de exceções, complicando mais a vida do aluno, principalmente daquele oriundo de camada social menos privilegiada.

O que se vê dentro de sala de aula é tentar-se anular diversidades lingüísticas que expressam diferenças e conflitos existentes entre grupos etários e étnicos e, sobremaneira, entre classes sociais. A esse respeito BOGO (1988:11) diz que a gramática tem sido o objeto do ensino de português no Brasil e não a língua, como deveria ser. Em conseqüência, estão sendo transmitidos aos alunos do Ensino Fundamental e do Médio conceitos lingüísticos falhos. Refletindo sobre esse ensino posto em prática pelas escolas públicas e particulares, verifica-se uma prática lastimável que é encher a cabeça do estudante com algo inútil, confuso, incompleto – o conhecimento teórico não contribui significativamente para o domínio da língua. Considerando a inutilidade desse conhecimento imposto ao aluno como um verdadeiro crime GERALDI (1987:21) afirma que: “O ensino da língua foi desviado para o ensino da teoria gramatical.”

Ora, se a função básica da escola é o ensino da língua padrão, não é com teoria gramatical que ela concretizará seu objetivo. Esses contrastes levam o estudante ao desinteresse pelo estudo da língua, pois quando pensa haver entendido conteúdo trabalhado em sala de aula, amargura-se ao se deparar com determinadas construções, pois não consegue entender o enunciado, daí resultam as frustrações, reprovações, recriminações que começam pela própria escola e o preconceito lingüístico de que não sabe português. Isso é o resultado de um ensino centrado na Gramática Tradicional – o conhecimento se esvai por falta de sustentação científica; é como caminhar por sobre o lodo; não há firmeza nos passos dados e a queda é inevitável. Toda essa parafernália gramatical tradicional é fruto de uma preocupação da escola em mostrar ao estudante a língua considerada padrão pela elite cultural que insiste em se pautar por modelos clássicos do século III aC. Sabe-se que, através da história, a cidade de Alessandria, no Egito, foi considerada, naquela época, importante centro da cultura grega.

Assim, a grande literatura clássica da Grécia despertou o interesse dos estudiosos desse campo, pois estavam preocupados na preservação da pureza da língua grega. Dessa forma nasceu a gramática que em grego significa “a arte de escrever. Como podemos observar, as regras gramaticais foram criadas voltadas para o uso literário dos considerados grandes escritores do passado, recebendo o nome de Gramática Tradicional. Analisando esses fenômenos lingüísticos, John Lyons afirma que elas resultaram em dois equívocos fatais: o primeiro, consiste em separar rigidamente a língua escrita da falada; o segundo, na forma de encarar a mudança das línguas que eles acreditavam ser uma “corrupção”, “decadência”, também concebida por muita gente até hoje. Em função desses equívocos, formou-se o “erro clássico” no estudo da linguagem que, apesar de dois milênios de reinado, só foi enxergado no final do século XIX e no início do XX com o surgimento da Lingüística. Logo, enquanto não houver uma proposta pedagógica capaz de eliminar esses equívocos ocorridos no ensino da língua e uma mudança substancial das motivações ideológicas que sustentam esse ensino mutilado, castrador, a gramática tradicional permanecerá como alvo crítico preferido, embora se reconheça ser ela o principal ponto de referência para o Ensino Fundamental e o Médio, face se constituir num indicador de problemas conceituais teóricos e prático já focalizados pelos lingüistas como uma contribuição no estudo da linguagem.

Tudo isso resulta na submissão da língua à gramática. Como? Com o passar dos séculos, a Gramática Tradicional mudou de roupagem, mas o conteúdo continuou o mesmo, isto é, passou a ser denominada de Gramática Normativa. Assim, a GT transformou-se numa ferramenta ideológica e as gramáticas escritas para descrever e fixar como regras e padrões as manifestações lingüísticas usadas espontaneamente pelos escritores considerados dignos de admiração, modelos a serem imitados. Com a instrumentalização da Gramática Normativa em mecanismo ideológico de poder e de controle de uma camada social sobre as demais, formou-se essa “falsa consciência” coletiva de que os usuários de uma língua necessitam da Gramática Normativa como se ela fosse uma espécie de fonte mística da qual emana a língua “pura”. Foi assim que a língua subordinou-se à gramática, segundo Bagno, (2000:87).

Finalmente, devemos ou não utilizar a gramática no ensino do português? Não há dúvida que sim, embora saibamos perfeitamente que ela em si não ensina ninguém a falar, contudo ajuda na medida em que saibamos separar o útil do inútil. Bagno é de opinião que a gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa. Isso levaria o professor de português a sair do seu comodismo, a ser dinâmico, deixando de ser apenas um repetidor da doutrina gramatical normativista que ele mesmo não domina integralmente. Portanto a importância da gramática está na competência do professor ao trabalhá-la em sala de aula, não priorizando conceitos e nomenclaturas para que o aluno possa ter liberdade de pensamento e de expressão verbal.

À vista das considerações feitas, conclui-se que a gramática não justifica seu papel de única fonte para o ensino da língua nas escolas, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, bem como o título de código normativo da linguagem tomada no geral. Os gramáticos levam ao último estágio do desespero tanto o professor quanto o estudante no estudo gramatical em virtude das divergências existentes entre eles. Assim, no momento em que o aluno entender que as regras da norma culta são variáveis e que o emprego de uma forma pode ser normal numa modalidade lingüística, raro em outra e inexistente numa terceira, o seu rendimento escolar será mais eficiente. Também é necessário que gramáticos e lingüistas formem uma verdadeira simbiose, para que haja espaço dentro de sala de aula para o ensino de “gramáticas” e que a elite cultural se conscientize de que houve mudanças profundas na língua padrão concebida pela GT e que no Brasil já não se fala o português de Portugal, e sim, o português brasileiro. Aí não tenhamos dúvida quanto à extinção da discriminação rígida que a escola põe em prática.


BIBLIOGRAFIA
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. Cascavel, Assoeste, 1987.
ANDRÉ, H.A. Gramática Ilustrada. São Paulo, Moderna, 1997.
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo, Nacional, 1982.
BAGNO, M. Dramática da Língua Portuguesa. São Paulo, Edições Loyola, 2000.
BOGO, O. Gramática: Leitura Crítica. Curitiba, HDV, 1988.
Aula de Português

Carlos Drummond de Andrade

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender

A linguagem
na superfície estrelada de estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.